Dados fechados no mês passado pela Vigilância Epidemiológica de Ribeirão Preto mostram que a cidade vive um surto de caxumba. Em 2007, foram registrados 248 casos até o final de agosto — número 785% maior do que todo o ano de 2006, que teve 28 casos no total. O surto eclodiu a partir de maio, quando houve 20 notificações, e agravou-se em junho, com 80 infectados.
A caxumba é uma doença viral aguda caracterizada pela inflamação da glândula parótida, localizada abaixo da orelha. Para evitar surtos como esse ou a ameaça de uma epidemia, o médico infectologista pediátrico do HC de Ribeirão Otávio Augusto Cintra diz que deve-se fazer vacinação de bloqueio, como ocorreu em 1997 diante de um surto de sarampo. “Acredito que a Secretaria da Saúde esteja estudando uma melhor medida para controlar esse surto”, diz.
Segundo a enfermeira da Vigilância Epidemiológica Silvia Assumpção, o vírus da caxumba é transmitido por via respiratória, por isso é comum os casos aumentarem no inverno. “É um surto, mas não se pode afirmar que vamos chegar a uma epidemia”, afirma Silvia. Ela explica que a caxumba deixou de ser tipicamente infantil para tornar-se mais freqüente em adolescentes e jovens, atingindo até adultos com mais de 30 anos.
O clínico geral Alfredo Tonello alerta que ao sinal dos sintomas da doença — inchaço e dor na região abaixo da orelha e febre — deve ser realizado imediatamente o diagnóstico através de coleta de sangue. “É importante detectá-la logo, pois a caxumba é uma doença progressiva e quanto maior o inchaço, maior será a febre”, diz o médico. E acrescenta que a caxumba também pode afetar o pâncreas, ocasionando dores na barriga e vômito. O tratamento é feito com repouso e a doença dura uma semana, em média. Tonello afirma que muito dificilmente a prática de exercícios físicos faria a doença descer para os testículos ou ovários. “A possibilidade disso acontecer é muito pequena, e quando ocorre é uma fatalidade”, enfatiza.
Para prevenir-se contra o vírus da caxumba, o representante comercial Maurício Inácio, de 29 anos, tomou a vacina tríplice viral na Unidade Básica Distrital de Saúde do bairro Castelo Branco. “É importante prevenir, pois uma semana fora do trabalho me complicaria”, diz.
Vacinação
A vacina tríplice viral, contra caxumba, rubéola e sarampo, ficou fora do calendário de vacinação até 1992, quando foi iniciada uma campanha nacional para crianças com até 10 anos. A segunda dose da vacina foi instituída para crianças entre 4 e 6 anos, em 2004. Hoje elas tomam a vacina com 1 ano e o reforço aos 5. Mas é possível que uma pessoa contraia a caxumba mesmo após receber a vacina, segundo Silvia, devido a uma falha na imunização. “A cada ano, 10% das crianças não respondem à vacina”, diz a enfermeira.
Todas as pessoas nascidas a partir de 1960 e que não tomaram a vacina devem procurar um Posto de Saúde para ser imunizadas. A segunda dose é destinada somente àqueles que entraram em contato com pessoas que contraíram a doença. “Existe um aumento do número de casos de caxumba, mas a hipótese de uma epidemia é baixa”, conclui Silvia.
Reportagem produzida pelo repórter Renê Scatena (Jornal do Ônibus, setembro de 2007)
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Menalton Braff critica organização e rompe com a Feira do Livro de Ribeirão Preto
O escritor Menalton Braff, que recebeu o Prêmio Jabuti de 2000 com o livro "À sombra dos ciprestes", rompeu com a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP). Um dos idealizadores do evento, Braff diz estar descontente com a organização do ano passado e ressalta que, desde a primeira edição, a qualidade caiu.
Participante de todas as seis edições - a Feira de Ribeirão estreou em 2001 - , Menalton é um dos principais nomes da literatura da região e do país. "Infelizmente houve um retrocesso muito grande (no evento)", lamenta. E acrescenta que a Feira do Livro não atinge o objetivo de incentivar o gosto pela leitura por ter cedido aos apelos comerciais das editoras. "A literatura já foi alijada do centro da Feira, é figura marginal, tornou-se a prima pobre. Por quê? Porque agora a visão é apenas comercial".
Participante de todas as seis edições - a Feira de Ribeirão estreou em 2001 - , Menalton é um dos principais nomes da literatura da região e do país. "Infelizmente houve um retrocesso muito grande (no evento)", lamenta. E acrescenta que a Feira do Livro não atinge o objetivo de incentivar o gosto pela leitura por ter cedido aos apelos comerciais das editoras. "A literatura já foi alijada do centro da Feira, é figura marginal, tornou-se a prima pobre. Por quê? Porque agora a visão é apenas comercial".
Uma evidência disso, e que causa polêmica entre os escritores, é a promoção de shows musicais e peças de teatro durante o evento. De acordo com o autor gaúcho Paulo Bentancur, o dinheiro investido para trazer esses artistas é muito maior do que a verba necessária para realizar eventos realmente voltados para a leitura, como salões de idéias e cafés filosóficos. “Sei de casos (de feiras de outras cidades) em que o escritor recebeu um cachê de R$ 200 enquanto uma banda foi contratada por R$ 2.000 para tocar por meia hora”. E completa: “Se o argumento (para os cachês mais altos) é que eles têm um custo mais elevado de produção, bom, então não é feira do livro, é feira de atrações”.
Mas Isabel de Farias, presidente da Fundação Feira do Livro, orgão responsável desde 2003 pela organização e realização da Feira, discorda da opinião dos escritores. "Quem pensa assim deve pleitear um lugar na Fundação e participar do conselho que define isso". Ela acrescenta que shows musicais e peças de teatro sempre estiveram presentes na Feira desde o início. Para ela, esses espetáculos têm a intenção não só de atrair as pessoas para a Feira do Livro como também de proporcionar uma opção de lazer para que o público continue no evento, pois os espetáculos não concorrem com as outras atrações da Feira. "Os shows serão iniciados às 21 horas, um horário em que a Feira encerra as atividades", afirma. Para Braff, porém, o público do livro não é o mesmo do show. "E se for, não há necessidade do show para que ele seja atraído”, ele observa.
O autor também chama a atenção para um outro aspecto comercial: a proliferação nos estandes de livros técnicos. Para ele, isso é ruim, pois não garante bons negócios para os livreiros, nem atinge o principal objetivo da Feira, que é a formação do gosto pela leitura. “Ora, ninguém vai me dizer que se desenvolve o gosto pela leitura com livros técnicos. O dentista e o engenheiro igualmente lêem literatura. Mas o dentista não lê livro de engenharia”, explica o autor. Mas Isabel ressalta que a Feira tem também um lado comercial. "As pessoas precisam entender que o escritor vive da venda do livro. Então eu acredito que a Feira do Livro de Ribeirão Preto, além de ser um espaço cultural, é um espaço para se vender livro".
Bentancur recusou três convites para a Feira de Ribeirão Preto. Segundo ele, a organização do evento faz distinção entre os escritores: nem todos recebem cachê, alguns têm que pagar as passagens e a hospedagem do próprio bolso e a outros não é disponibilizado sequer um espaço para expor os seus livros. E foram esses motivos que o fizeram desistir de comparecer em 2006, mesmo com sua presença já confirmada na programação. “Eu ia falar do Mário Quintana e meus livros recém lançados não seriam tema de nada. Eles não pagariam cachê algum para mim enquanto muitos autores de fora, que eu conhecia e com quem me correspondo, estavam recebendo valores dignos". E acrescenta: "a comissão organizadora não pretendia pagar nem a minha passagem. Esperavam que a editora pagasse. Afinal, que tipo de convite era esse?" E explica que não é só a Feira do Livro de Ribeirão Preto que age desse modo. "Eu já estou vacinado”.
Isabel diz que não pode comentar o caso de Bentancur, pois não participava da Fundação Feira do Livro no ano passado. Mas afirma que a Fundação, além de custear a hospedagem e translados, ofereceu um cachê básico para os escritores convidados para a sétima edição da Feira, que acontece de 28 de setembro a 7 de outubro nas praças XV e Carlos Gomes e imediações. Ela comenta, porém, que alguns deles não receberão pagamento. "Tem muito escritor que não vai receber nada e que está vindo porque gosta da feira, porque acha importante ter esse espaço pra poder falar". E afirma que nesta edição a organização trará autores para falar preferencialmente de seus próprios livros e não de outros escritores, como costumava acontecer.
Matéria produzida pela repórter Luciana Nascimento (Jornal do Ônibus, setembro de 2007)
Mas Isabel de Farias, presidente da Fundação Feira do Livro, orgão responsável desde 2003 pela organização e realização da Feira, discorda da opinião dos escritores. "Quem pensa assim deve pleitear um lugar na Fundação e participar do conselho que define isso". Ela acrescenta que shows musicais e peças de teatro sempre estiveram presentes na Feira desde o início. Para ela, esses espetáculos têm a intenção não só de atrair as pessoas para a Feira do Livro como também de proporcionar uma opção de lazer para que o público continue no evento, pois os espetáculos não concorrem com as outras atrações da Feira. "Os shows serão iniciados às 21 horas, um horário em que a Feira encerra as atividades", afirma. Para Braff, porém, o público do livro não é o mesmo do show. "E se for, não há necessidade do show para que ele seja atraído”, ele observa.
O autor também chama a atenção para um outro aspecto comercial: a proliferação nos estandes de livros técnicos. Para ele, isso é ruim, pois não garante bons negócios para os livreiros, nem atinge o principal objetivo da Feira, que é a formação do gosto pela leitura. “Ora, ninguém vai me dizer que se desenvolve o gosto pela leitura com livros técnicos. O dentista e o engenheiro igualmente lêem literatura. Mas o dentista não lê livro de engenharia”, explica o autor. Mas Isabel ressalta que a Feira tem também um lado comercial. "As pessoas precisam entender que o escritor vive da venda do livro. Então eu acredito que a Feira do Livro de Ribeirão Preto, além de ser um espaço cultural, é um espaço para se vender livro".
Bentancur recusou três convites para a Feira de Ribeirão Preto. Segundo ele, a organização do evento faz distinção entre os escritores: nem todos recebem cachê, alguns têm que pagar as passagens e a hospedagem do próprio bolso e a outros não é disponibilizado sequer um espaço para expor os seus livros. E foram esses motivos que o fizeram desistir de comparecer em 2006, mesmo com sua presença já confirmada na programação. “Eu ia falar do Mário Quintana e meus livros recém lançados não seriam tema de nada. Eles não pagariam cachê algum para mim enquanto muitos autores de fora, que eu conhecia e com quem me correspondo, estavam recebendo valores dignos". E acrescenta: "a comissão organizadora não pretendia pagar nem a minha passagem. Esperavam que a editora pagasse. Afinal, que tipo de convite era esse?" E explica que não é só a Feira do Livro de Ribeirão Preto que age desse modo. "Eu já estou vacinado”.
Isabel diz que não pode comentar o caso de Bentancur, pois não participava da Fundação Feira do Livro no ano passado. Mas afirma que a Fundação, além de custear a hospedagem e translados, ofereceu um cachê básico para os escritores convidados para a sétima edição da Feira, que acontece de 28 de setembro a 7 de outubro nas praças XV e Carlos Gomes e imediações. Ela comenta, porém, que alguns deles não receberão pagamento. "Tem muito escritor que não vai receber nada e que está vindo porque gosta da feira, porque acha importante ter esse espaço pra poder falar". E afirma que nesta edição a organização trará autores para falar preferencialmente de seus próprios livros e não de outros escritores, como costumava acontecer.
Matéria produzida pela repórter Luciana Nascimento (Jornal do Ônibus, setembro de 2007)
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