sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ribeirão Preto vive surto de caxumba com o aumento de 785% no n° de casos da doença

Dados fechados no mês passado pela Vigilância Epidemiológica de Ribeirão Preto mostram que a cidade vive um surto de caxumba. Em 2007, foram registrados 248 casos até o final de agosto — número 785% maior do que todo o ano de 2006, que teve 28 casos no total. O surto eclodiu a partir de maio, quando houve 20 notificações, e agravou-se em junho, com 80 infectados.
A caxumba é uma doença viral aguda caracterizada pela inflamação da glândula parótida, localizada abaixo da orelha. Para evitar surtos como esse ou a ameaça de uma epidemia, o médico infectologista pediátrico do HC de Ribeirão Otávio Augusto Cintra diz que deve-se fazer vacinação de bloqueio, como ocorreu em 1997 diante de um surto de sarampo. “Acredito que a Secretaria da Saúde esteja estudando uma melhor medida para controlar esse surto”, diz.
Segundo a enfermeira da Vigilância Epidemiológica Silvia Assumpção, o vírus da caxumba é transmitido por via respiratória, por isso é comum os casos aumentarem no inverno. “É um surto, mas não se pode afirmar que vamos chegar a uma epidemia”, afirma Silvia. Ela explica que a caxumba deixou de ser tipicamente infantil para tornar-se mais freqüente em adolescentes e jovens, atingindo até adultos com mais de 30 anos.
O clínico geral Alfredo Tonello alerta que ao sinal dos sintomas da doença — inchaço e dor na região abaixo da orelha e febre — deve ser realizado imediatamente o diagnóstico através de coleta de sangue. “É importante detectá-la logo, pois a caxumba é uma doença progressiva e quanto maior o inchaço, maior será a febre”, diz o médico. E acrescenta que a caxumba também pode afetar o pâncreas, ocasionando dores na barriga e vômito. O tratamento é feito com repouso e a doença dura uma semana, em média. Tonello afirma que muito dificilmente a prática de exercícios físicos faria a doença descer para os testículos ou ovários. “A possibilidade disso acontecer é muito pequena, e quando ocorre é uma fatalidade”, enfatiza.
Para prevenir-se contra o vírus da caxumba, o representante comercial Maurício Inácio, de 29 anos, tomou a vacina tríplice viral na Unidade Básica Distrital de Saúde do bairro Castelo Branco. “É importante prevenir, pois uma semana fora do trabalho me complicaria”, diz.
Vacinação
A vacina tríplice viral, contra caxumba, rubéola e sarampo, ficou fora do calendário de vacinação até 1992, quando foi iniciada uma campanha nacional para crianças com até 10 anos. A segunda dose da vacina foi instituída para crianças entre 4 e 6 anos, em 2004. Hoje elas tomam a vacina com 1 ano e o reforço aos 5. Mas é possível que uma pessoa contraia a caxumba mesmo após receber a vacina, segundo Silvia, devido a uma falha na imunização. “A cada ano, 10% das crianças não respondem à vacina”, diz a enfermeira.
Todas as pessoas nascidas a partir de 1960 e que não tomaram a vacina devem procurar um Posto de Saúde para ser imunizadas. A segunda dose é destinada somente àqueles que entraram em contato com pessoas que contraíram a doença. “Existe um aumento do número de casos de caxumba, mas a hipótese de uma epidemia é baixa”, conclui Silvia.

Reportagem produzida pelo repórter Renê Scatena (Jornal do Ônibus, setembro de 2007)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Menalton Braff critica organização e rompe com a Feira do Livro de Ribeirão Preto

O escritor Menalton Braff, que recebeu o Prêmio Jabuti de 2000 com o livro "À sombra dos ciprestes", rompeu com a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP). Um dos idealizadores do evento, Braff diz estar descontente com a organização do ano passado e ressalta que, desde a primeira edição, a qualidade caiu.
Participante de todas as seis edições - a Feira de Ribeirão estreou em 2001 - , Menalton é um dos principais nomes da literatura da região e do país. "Infelizmente houve um retrocesso muito grande (no evento)", lamenta. E acrescenta que a Feira do Livro não atinge o objetivo de incentivar o gosto pela leitura por ter cedido aos apelos comerciais das editoras. "A literatura já foi alijada do centro da Feira, é figura marginal, tornou-se a prima pobre. Por quê? Porque agora a visão é apenas comercial".
Uma evidência disso, e que causa polêmica entre os escritores, é a promoção de shows musicais e peças de teatro durante o evento. De acordo com o autor gaúcho Paulo Bentancur, o dinheiro investido para trazer esses artistas é muito maior do que a verba necessária para realizar eventos realmente voltados para a leitura, como salões de idéias e cafés filosóficos. “Sei de casos (de feiras de outras cidades) em que o escritor recebeu um cachê de R$ 200 enquanto uma banda foi contratada por R$ 2.000 para tocar por meia hora”. E completa: “Se o argumento (para os cachês mais altos) é que eles têm um custo mais elevado de produção, bom, então não é feira do livro, é feira de atrações”.
Mas Isabel de Farias, presidente da Fundação Feira do Livro, orgão responsável desde 2003 pela organização e realização da Feira, discorda da opinião dos escritores. "Quem pensa assim deve pleitear um lugar na Fundação e participar do conselho que define isso". Ela acrescenta que shows musicais e peças de teatro sempre estiveram presentes na Feira desde o início. Para ela, esses espetáculos têm a intenção não só de atrair as pessoas para a Feira do Livro como também de proporcionar uma opção de lazer para que o público continue no evento, pois os espetáculos não concorrem com as outras atrações da Feira. "Os shows serão iniciados às 21 horas, um horário em que a Feira encerra as atividades", afirma. Para Braff, porém, o público do livro não é o mesmo do show. "E se for, não há necessidade do show para que ele seja atraído”, ele observa.
O autor também chama a atenção para um outro aspecto comercial: a proliferação nos estandes de livros técnicos. Para ele, isso é ruim, pois não garante bons negócios para os livreiros, nem atinge o principal objetivo da Feira, que é a formação do gosto pela leitura. “Ora, ninguém vai me dizer que se desenvolve o gosto pela leitura com livros técnicos. O dentista e o engenheiro igualmente lêem literatura. Mas o dentista não lê livro de engenharia”, explica o autor. Mas Isabel ressalta que a Feira tem também um lado comercial. "As pessoas precisam entender que o escritor vive da venda do livro. Então eu acredito que a Feira do Livro de Ribeirão Preto, além de ser um espaço cultural, é um espaço para se vender livro".
Bentancur recusou três convites para a Feira de Ribeirão Preto. Segundo ele, a organização do evento faz distinção entre os escritores: nem todos recebem cachê, alguns têm que pagar as passagens e a hospedagem do próprio bolso e a outros não é disponibilizado sequer um espaço para expor os seus livros. E foram esses motivos que o fizeram desistir de comparecer em 2006, mesmo com sua presença já confirmada na programação. “Eu ia falar do Mário Quintana e meus livros recém lançados não seriam tema de nada. Eles não pagariam cachê algum para mim enquanto muitos autores de fora, que eu conhecia e com quem me correspondo, estavam recebendo valores dignos". E acrescenta: "a comissão organizadora não pretendia pagar nem a minha passagem. Esperavam que a editora pagasse. Afinal, que tipo de convite era esse?" E explica que não é só a Feira do Livro de Ribeirão Preto que age desse modo. "Eu já estou vacinado”.
Isabel diz que não pode comentar o caso de Bentancur, pois não participava da Fundação Feira do Livro no ano passado. Mas afirma que a Fundação, além de custear a hospedagem e translados, ofereceu um cachê básico para os escritores convidados para a sétima edição da Feira, que acontece de 28 de setembro a 7 de outubro nas praças XV e Carlos Gomes e imediações. Ela comenta, porém, que alguns deles não receberão pagamento. "Tem muito escritor que não vai receber nada e que está vindo porque gosta da feira, porque acha importante ter esse espaço pra poder falar". E afirma que nesta edição a organização trará autores para falar preferencialmente de seus próprios livros e não de outros escritores, como costumava acontecer.

Matéria produzida pela repórter Luciana Nascimento (Jornal do Ônibus, setembro de 2007)